domingo, 9 de maio de 2010

Pretos Velhos,Pretas Velhas


No Dia 13 de maio é comemorado o Dia da Abolição dos Escravos.Resta saber qual escravos.Opa! aqueles que a "polaca" Isabel passou a caneta para fazer com que eles fossem a partir daquela data, livres , leves e soltos, tipo comercial de margarina de baixas calorias.Até parece que mudou muita coisa.Rui Barbosa que o diga.

Na maioria dos terreiros de Umbanda que trabalham com esta "linhagem" de Entidades, neste mês e próximo a esta data são feitos festejos em homenagem a eles.

Bem, mas o que são "Pretos Velhos"? Dando uma fuçadinha básica por ai, em média temos várias denominações.Uma são até bem bonitinhas:

"São entidades da falange da Omulu, Abaluaê, do sétimo padrão vibratório em conjugação com a vigésima quinta constelação de aquário, cruzado com a vibração do cruzeiro das almas sentado a direita de Deus pai, filho de Nossa senhora do Carmo.Fumam cachimbas, bebem vinho, falam calmos, são grandes conselheiros e tem uma paciência de "Jó".Não foram na "verdade" ( na verdade é bom heim..) Pretos velhos e sim médicos, astronautas, monges Hindus, Austriacos e remotam na Umbanda desde os "tempos perdidos" de continentes que não existem mais".Fim.

Eu fico imaginado como fica a cabeça de um neófito quando se depara com definições ou tabelas de falanges de Pretos Velhos.Ou deve pirar o cabeção ou viajar bem na maionese.

Bom, vamos aos fatos.
Se estamos falando de Umbanda, estamos citando neste contexto toda uma conjução de ANCESTRALIDADE contida na religião, em seus ritos e tradições.Não há como falar de Pretos Velhos sem que tenhamos que saber um pouco, no mínimo que seja, dos exôdos a forceps dos Africanos ao Brasil.Não só os Yorubás, que serviram como referência por ser o parâmetro mais forte, mas os Congos, Angolas, JeJês, Malês (mulçumanos), enfim falar de Africa não é só falar de dois ou trêis países e sim de um continente todo, rico em tradições culturais e sociais que influenciaram toda a formação de parte do ocidente e do (guarde seu preconceito na gaveta antes da próxima frase) Brasil.

Um mito é que antes dos idos de 1900 é que não havia manifestação de Pretos Velhos.Na tradição Angola, Bantu, os antigos feiticeiros, sacerdotes, "velhos" com eram chamados eram invocados, os chamados "Tatas", Os pais velhos, os sábios.
Ganhou tipo de "o bom negro velho" depois que houve a "mistura", o clareamento da Umbanda, dando mais ares de conversão e "catolicização" do Africano,algo como o "bom selvagem domesticado", convertido ao cristianismo.
A história conta que realmente alguns por comodismo (para ter soldo, gozar de feriados e ter nome aceito socialmente) fizeram a opção pelo catolicismo, mas a grande parte, se mativeram fiéis as suas tradições de origem.

A idéia geral é que quem era Preto velho tinha 70, 80 anos.Não é tão real esta concepção, pois a expectativa de vida era pequena, e poucos, muito poucos chegavam a 50, 60 anos.Com a Abolição,piorou muito, pois mesmo escravizados, tinham mais cuidados dos senhores com a saúde.Soltos e vivendo a margem da sociedade, doenças como cólera, desidratação, tuberculose faziam com que a mortandade fosse grande.
Sem falar que ainda eram vítimas de "purificadores" , uma klu-klux-kan a brasileira.(parece que nos últimos 100 anos a coisa não mudou muito). Não vou ficar aqui esmiuçando todo este contexto, afinal é um blog e não tese.

Eu acredito que a partir do momento que uma entidade, um espírito, um egum, venha a se apossar, incorporar em um médium de Umbanda em um ritual de Pretos velhos, usando dos trejeitos, fazendo menção a uma ancestralidade Africana, mesmo que seja considerado que tenha nascido e tenha tido vida no Brasil, eu o reverêncio, cultuo e faço os devidos tratos como Preto Velho.Se ele foi dinamarquês, ou japonês, creio que não compete a nós ficarmos tentando tirar leite de pedra, ou ficar discutindo o sexo dos anjos.

Umbanda é uma religião de ancestralidade, não somente africana.Todas as formas de ancestralidade devem ser postas a conhecimento as claras aos neófitos, para saberem exatamente quais são os tipos e arquétipos que são cultuados.Fora isto, na minha concepção, é mascarar o contexto com preconceito.

Entoces, por mais anímico que possa parecer o transe de um "cavalo" dentro de um terreiro, tenhamos o respeito e a consideração que ali está a representação, um digno representante não de uma unidade, e sim de toda uma história de um povo.Não me refiro somente aos Pretos Velhos, mas de todo o panteão de Umbanda.

Indico alguns links.Recomendo que baixem e leiam com atenção.Serve de bom parâmetro e guia a estudos mais aprofundados, embora digam que "Umbanda não se estuda....".

http://www.lai.su.se/gallery/bilagor/SRoLAS_No4_3.%20Registros%20da%20escravida%CC%83o.pdf

www.casadeculturaaruanda.org/biblioteca/umbanda_pretovelho.pdf

Que Olorum nos guie!

2 comentários:

  1. Vou deixar aqui minha homenagem poema que fiz aos meus queridos Pretos Velhos.

    Nossos queridos Pretos Velhos

    Indiferente a ignorância do entendimento que muitos têm em dizer que por falarem com erros não devam ser ou não deveriam ser espíritos elevados, digo que, não é pelo lirismo ou pela escrita ou fala acadêmica que se verifica a mediunidade, muito menos a bondade em coração.
    De fato o que ocorria era uma mistura de idiomas, mesmo porque nada tinham com a cultura européia, eram africanos, daí serem PRETOS.
    Quem fala com amor e bondade não necessita de perfeição, pois a fala não reflete o amor e carinho aos quais nossos Pretos velhos carregam em seus corações.

    Salve os Pretos Velhos, viva as almas!

    Nesse dia em sua homenagem,
    Não poderia deixar de escrever,
    E mostrar para muitos,
    O que em terra meus velhos vêm fazer,

    Sacerdotes em suas terras, arrancados sem dó nem piedade,
    Aportaram em nossa terra, uma terra de cobiça e de maldade,
    Espírito calmo, ponderado e evoluído,
    Nossos velhos deixaram marcas,
    E não foram as marcas de tribo,

    Curandeiros de valor, contadores de histórias,
    Trabalhadores de moral, abençoados pela glória,
    Mesmo com trato de animais,
    Amarrados e covardemente maltratados,
    Eles falavam do amor, da verdade e sonhos,

    Diziam que o partir não era morte,
    E sim um encontro no Céu,
    Onde junto a Nzambi, poderiam ver mais longe,
    Verificar com alegria o vislumbre dos horizontes,

    Vários nomes nós os conhecemos,
    E todos têm lugar especial no coração,
    São amigos verdadeiros, nos ensinam a bondade do amor,
    Sem qualquer interesse forasteiro,
    Fazem-se presentes na angústia da dor,

    Oh meu velho amigo, sábio e curador,
    Com seu cachimbo aceso, suas ervas e sua vela,
    Reza o meu corpo e me cura de todas as mazelas,

    Salve Pai Joaquim, de bondade amor e perfeição,
    Salve a todos os Pretos Velhos,
    Salve Nzambi o Deus maior,
    Salve nossas Vovós Pretas,

    Livra-nos da maldade escondida,
    Ensina-nos ao amor incondicional,
    Receba meu pedido de benção,
    Meu respeito e louvor a ti,
    Minha prece em agradecimento,
    Do seu pequenino Kambami.

    A todos que por aqui passarem,
    Recebam também em louvor,
    Cura-os meus velhos,
    De todos os males e da dor.

    Salve as almas, benção meus velhos!

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